Zorro: para crianças? |
Fui criança e não tive videogame, iphone, wii, etc., mas
adoraria ter tido. Minha filha não tem nada disso ainda, mas já tá na hora. No
meu tempo, tinha três canais na TV, todos de adulto. Minha filha tem Discovery Kids,
o canal do Ratimbum, dezenas de DVDs muito bons, e um serviço de filmes pela Internet.
Eu fui ensinado que caubói que dá tiro um no outro, Zorro que mata o outro com
sua espada, Pedrinho que caçava onças por diversão, e o sacana imoral do desenho
do Pica-Pau, eram coisas de criança. Minha filha detesta todos eles e não
entende como atirar, matar e sacanear os outros pode ser legal.
Ganhei aos oito anos de idade, no natal, um
revolver de espoleta igualzinho um de verdade; um amigo ganhou uma espingarda
de chumbinho e eu bem que queria ter tido uma. Minha filha não tem nenhuma arma
de brinquedo (pode ser só coisa de menino, mas as armas de brinquedo de hoje
parecem de brinquedo, pelo menos).
El Cabong: violência disfarçada |
Para responder minhas dúvidas, meus pais
consultavam enciclopédias de papel desatualizadas. Eu uso o Google e o que de
melhor ele me apontar. Meus pais, mesmo muito legais e esclarecidos, achavam
que bater educava, e eu apanhava um monte, pois às vezes eu não era fácil! Minha
filha nunca apanhou na vida e se comporta muito melhor que eu me comportava.
No tempo da minha infância, todo mundo andava no carro sem cadeirinha e sem
cinto de segurança. Minha filha usa todos os dispositivos de segurança. Davam
Tang, Groselha e Ki-Suco pra gente! Esses químicos não passam nem perto da
minha filha.
Eu cresci de pé no chão num sítio, e quando visitava algum amigo
na cidade, curtia as brincadeiras mais “urbanas”, como bolinha de gude, pião,
carrinho de rolimã. Aqui em Brasília, minha filha também curte um monte de
brincadeiras, de pé no chão, come fruta no pé (amoras, especialmente), anda de
bicicleta, tem uma turma de amiguinhas. Na escola, tínhamos medo do diretor. A
diretora da escola da minha filha tem sua total confiança.
Quando ralava o
joelho, sofria com mertiolate que ardia demais ou mercúrio cromo, remédios
cujos princípios ativos foram banidos. Ela tem uma pomadinha que tira a dor e
protege. Eu ardi no sol muitas vezes, e era protegido por creme nívea no nariz
e só. Um dia de brincadeiras na praia podia render uma noite de sofrimento.
Minha filha nunca teve esse tipo de dor, pois está sempre protegida por filtros
solares quando vai à praia.
Eu tive uma infância privilegiada, pois no sítio subia
em árvores, andava a cavalo quase todo dia, tinha piscina, e um monte de coisas
que os meninos da cidade não tinham. Minha filha, por morarmos em Brasília, tem
parte dessas coisas, mesmo morando na cidade. Quando dá, levo-a ao sítio da
vovó para que ela tenha um pouco da vida de sítio que eu tive.
Meus pais eram à
frente de seu tempo e eu tinha muita liberdade. Eu sou mais liberal ainda. Não acho que minha
filha tenha menos cuidados, qualidade ou alegria do que eu tive na sua idade. Acho que ela curte muito
sua infância. É uma menina feliz! Então, viva a infância de cada tempo! Não
tenho nostalgia.
oi ronaldo, finalmente entrei no seu blog!! adorei!! quando tiver mais um tempinho vou ler outras coisas. bjos e sucesso, daniela
ResponderExcluirValeu, Dani! Obrigado pelo incentivo!!!
ResponderExcluirMuito bom!!
ResponderExcluirApenas observo que algumas coisas do nosso tempo nos colocavam em situação de vantagem quanto à liberdade, pois no nosso tempo as ruas tinham menos veículos e as esquinas menos maldade. Com 7 anos de idade eu voltava da escola a pé, andando 3 quadras até minha casa. Isso talvez proporcionasse uma desenvoltura que hoje as crianças dessa idade não tem.
Abraço.
Concordo... mas não sei bem se isso é resultado da paranoia maior desses dias de hoje, criada pela TV, de cuidados justificados que antes não tínhamos (tal como cinto de segurança), ou do ambiente urbano de hoje mesmo, que é mais violento. Acho que é uma mistura dos 3.
ResponderExcluirCom 8 anos, eu voltava de ônibus sozinho da escola na cidade para o sítio onde eu morava. Aos 11, viajei sozinho de Jundiaí a Itanhaém, descendo do ônibus em São Paulo, na antiga rodoviária, caminhando até o metrô da Luz, cruzando a cidade de metrô até a estação Jabaquara, de onde pegava o outro ônibus para Itanhaém. Ninguém tinha celular, e telefone era raro. Em Itanhaém não tinha. Meus pais me viam embarcar, e ficavam dias sem saber se eu tinha chegado! Muita fé mesmo!