segunda-feira, 29 de abril de 2013

É difícil explicar certas coisas à minha filha

É difícil explicar certas coisas à minha filha. Não, não estou falando de sexo. Sexo é fácil de explicar. Também não estou falando da questão da moda: o casamento gay. Isso também é fácil de explicar. É tão fácil explicar o amor! 

Estou falando de coisas realmente difíceis de explicar, como a violência dos pais contra os filhos. 

Vivemos isso outro dia. Minha filha brincava com uma amiguinha, e a mãe, depois de chamar a filha algumas vezes, e de ficar papeando conosco, foi finalmente chamar a filha, que pediu para ficar mais um pouco. Levou um tapa, estalado, segundo minha filha (pois não vi), que ficou assustada, boquiaberta, horrorizada. A menina chorou muito, humilhada e, talvez, dolorida.

Sofia nunca apanhou, mas se usássemos o mesmo critério da mãe da amiguinha, apanharia todos os dias! Sempre temos que negociar. Qual é o problema? O que se ensina quando se bate numa criança? A obediência? Ou será que é que o amor está associado à violência? Talvez por isso faça tanto sucesso entre as mulheres um livro em que o amor e o desejo está associado ao masoquismo (50 Tons de Cinza). 

Foi difícil explicar à Sofia: 

_ Por que ela bateu na minha amiga? A gente tava brincando e ela veio e bateu... 

Sofia nem acreditou, achou que a mãe tinha estalado uma mão na outra, e custou a crer que tinha batido na própria filha. 

_ Não é crime bater em criança? 

Expliquei que sim, mas que raramente os pais eram punidos, embora estivessem tentando uma lei para garantir isso.

_ Por que a mãe dela riu depois de bater nela?  

Foram várias perguntas, por quase vinte minutos, em que eu estava indignado e ainda tendo de explicar para minha filha o que, agora para mim, é inexplicável. 

Minha esposa ainda me lembrou que todos nós apanhamos dos pais, e que isso ainda é muito comum. É mesmo! 

Incrível como nos distanciamos disso e tornamos a violência um tabu. Acredito que deva ser assim. Bater em alguém dentro de casa, especialmente em alguém mais fraco (homem batendo em mulher, pai ou mãe batendo nos filhos pequenos), deve ser um tabu. Só assim se exercitam as outras soluções para os conflitos. Bater é como o primeiro gole para o alcóolico: depois que se começa, não se para mais. Incrível como as coisas se inverteram para nós pela simples opção de não bater, de não reprimir a sexualidade, de não repassar o preconceito. Também é muito difícil explicar a miséria, explicar as pessoas dormindo na rua, explicar que devemos passar ao lado e deixá-las lá... Mas isso é assunto para outro post.

Um comentário:

  1. Parabéns pelo blog! Fico feliz em saber que tem gente que cria os filhos assim com muito amor para tudo, até para corrigir. Tenho uma Sofia também, que é gêmea com o Theo, Eles tem cinco aninhos. Penso exatamente igual a você. Abraço para conter birra, negociar sempre, nunca bater, amor para tudo...

    ResponderExcluir

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...

Curta nossa página no Facebook

Seguidores

As mais populares

Arquivo do blog