segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Sobre a culpa, o arrependimento e o perdão

A reação de várias amigas minhas a este blog tem sido algo relacionado com a culpa. É interessante, pois quando mostro o blog aos homens, a culpa não é um tema e o que parece importar são a utilidade e a validade (ou não) do que aprendi. Mas para as mamães a culpa parece importante. 

Eu entendo isso, pois meu aprendizado aqui é baseado na prática, no reconhecimento de meus próprios erros (de interpretação de minha filha e na minha reação a isso), o que envolve para mim também a culpa. Quantas vezes projetei minhas próprias motivações e mesquinharias sobre os comportamentos de minha filha, interpretando-a de forma injusta?! Muitas! Quebrei a cara muitas vezes com ela me ensinando que ela é muito melhor do que eu pensava! E o que senti foi culpa, embaraço e vergonha (de mim mesmo).
Mas a culpa é o primeiro estágio do aprendizado sobre a vida. Outros dois estão bem consolidados na nossa formação cristã (mesmo para aqueles que, como eu, a renegam): são o arrependimento e o perdão.

A culpa é insuficiente para o aprendizado. Não adianta você só se sentir culpado pelo que fez e faz de errado: você deve se arrepender. Arrepender-se quer dizer reconhecer que o que fez não foi o melhor, decidir que não fará de novo, e que no lugar fará o melhor que souber e puder. Porém, para a felicidade, o aprendizado baseado só na culpa e no arrependimento seria impossível. Para ser feliz, depois do erro, da culpa e do arrependimento, é preciso o perdão: o perdão a si mesmo, que requer zerar as dívidas, esquecer as perdas anteriores, e transformar o aprendizado numa experiência inteiramente positiva. Um renascimento. No sentido cristão, uma experiência transformadora que envolve a vida toda. 

No sentido mais realista de uma vida baseada em pequenos aprendizados, estamos falando de pequenos renascimentos, embora possam também ser grandes revelações. No sentido budista, estamos falando do reconhecimento da origem do sofrimento e da iluminação, deixando o ego (que se apega aos erros como se fossem um tipo de patrimônio formador da identidade) para trás. Também podem ser pequenas iluminações. Aprender na vida é todo dia. Nunca fica pronto, não tem diploma.

Tem uma coisa que meus 44 anos me ensinaram: é que vai ficando cada vez mais difícil (ou doloroso) aprender por causa da culpa e do arrependimento. Explico: depois que já se fez tanto errado, um aprendizado envolve uma contabilidade do que se perdeu e parece que só se perde quando a contabilidade é feita. Ou seja, parece que, enquanto não se aprendeu não se perdeu. Aprender sobre a vida resultaria em contabilizar perdas. Mas isso é uma ilusão: a perda pelas ações baseadas no que você sabia (ou não sabia) já ocorreu e não adianta você não aprender. Se você não aprender, por outro lado, você vai continuar a perder. Então, mesmo que eu tenha errado durante 44 anos, é melhor do que errar durante 88 anos! 

Às mamães (e papais) que sentem culpa ao ler este blog: tudo bem se sentir culpa, é normal e saudável, mas dedique-se também ao arrependimento e, principalmente, ao perdão de si mesmo. Quanto mais praticar, mais fácil fica para perdoar-se (e para aprender, lógico!). 

Um comentário:

  1. Texto maz maravilhoso. Ler estas considerações faz parte de um outro capítulo, que trataria dos sinais e das recompensas. Porque se atingimos o estágio do perdão (a si próprio) ainda restaria a questão das mágoas e marcas que imprimimos na criança. Então, perceber que o ser humano sob nossa responsabilidade também cresceu, conseguindo entender e absolver nossas falhas - e ainda ter afeição e amor por nós, produz uma linda experiência (que entretnto não deveria fazer crescer nosso ego). Obrigada.

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