Contar a ela que Papai Noel não existe

A capacidade de fantasiar e sonhar se desenvolve mais quando se sabe que a fantasia é fantasia e que o sonho é sonho.

Uma coisa que às vezes deixa meus amigos com uma cara de decepção é quando conto que minha filha sempre soube que Papai Noel não existe. Eu resolvi que não mentiria para a minha filha. Nunca. Se eu mentisse, perderia sua confiança, e eu quero que ela acredite em mim. Então, quando ela me perguntou sobre o Papai Noel, eu disse que ele só existia no mundo da imaginação. Hoje, com cinco anos, ela diz com todas as letras: “Papai Noel não existe!” 

Mas ela nem por isso fantasia menos. Ela tem uma rica imaginação. Esse Papai Noel, gorducho e preparado para uma nevasca, de roupinha vermelha, que segundo meu amigo André Gorga foi popularizado pela Coca Cola nos anos 1930, e cuja função é estimular o consumismo, não é, porém, a fantasia que mais gosto de estimular.

Da mesma forma que minha filha brinca com as bonecas e as faz falar, ela imagina histórias e se encanta com o mundo. Imagina, além do Papai Noel, o Saci Pererê e o Curupira, para não falar dos deuses gregos, de Tupã, Jaci, e até o Deus cristão, sentado num trono sobre uma nuvem e que mandou um dilúvio que afogou todo mundo a não ser Noé, a família dele e os poucos animais felizardos que subiram na Arca (pois é, ela ganhou de uma tia um livro sobre a história de Noé). Mas sabe que todos eles só existem no mundo da imaginação. De vez em quando, porém, pergunta: Pai, essa pessoa na TV existe?

O mundo é cheio de histórias. A capacidade de fantasiar e sonhar se desenvolve mais quando se sabe que a fantasia é fantasia e que o sonho é sonho. Quando não se sabe disso, não se fantasia, se acredita que a coisa é real, e quando a verdade aparecer sobrará a desilusão. A fantasia aparece quando a gente sabe que não existe, mas ainda assim brinca de fingir que acredita. Se a gente não precisa pensar que é real, aí sim a fantasia é ilimitada! Feliz Natal!