terça-feira, 6 de dezembro de 2011

O que realmente estamos ensinando aos nossos filhos?

Não é de nutrição que quero escrever. É sobre algo mais importante. Eu achava que estava ensinando minha filha a comer de forma saudável (do meu jeito), mas estava fazendo uma coisa a mais, estava ensinando valores sobre como tratar os outros. 
 
Nesta semana aconteceu uma coisa que me fez refletir sobre o que estamos realmente ensinando nossos filhos quando pensamos que estamos ensinando algo. Deixe-me primeiro contextualizar: minha filha Sofia só come o que quer. Isso é bom e mau. É bom porque ela adquiriu hábitos e gostos saudáveis: come salada, não come balas, nunca provou refrigerante, não fica implorando por doces. É mau porque ela implicou com uma série de cheiros e sabores de coisas que gostaríamos que ela comesse: a maioria das frutas. Algumas vezes, pensamos se estamos certos de deixá-la comer o que quer. Alguns amigos discordam de nosso jeito de lidar com a questão. Minha justificativa é nutricional: se ela aprende a escolher, desenvolve uma intuição nutricional, comendo o que precisa. Minha mãe aplicou isso comigo, e observo que isso é correto também com minha filha, que em geral escolhe alimentos que se complementam entre as refeições de um dia. Ou seja, ao longo de um dia, vejo que ela equilibra os vários grupos alimentares, embora isso possa não acontecer dentro de uma mesma refeição.

Mas não é de nutrição que quero escrever. É sobre algo mais importante. Eu achava que estava ensinando minha filha a comer de forma saudável (do meu jeito), mas estava fazendo uma coisa a mais, estava ensinando valores sobre como tratar os outros.

Eu explico:

Nesta semana, Sofia recebeu amiguinhas para um lanche, e havia bolo com nozes, que uma das amigas não queria comer. Ela cuidou da amiga, dizendo para ela separar as nozes, que dava para comer assim. Isso despertou mais um aprendizado para mim. Quando consideramos e respeitamos as preferências de nossos filhos, ensinamos a eles a considerar e respeitar as preferências dos outros. Quando cuidamos com carinho das demandas de nossas crianças, elas aprendem que o certo é fazer isso com as outras pessoas. 

Então, me pergunto se quando forçamos nossa vontade, ou opinião, sobre alimentação aos nossos filhos, e brigamos para que comam o que está no prato, independentemente da fome ou das preferências das crianças, o que estamos ensinando? Neste caso talvez estejamos não somente ensinando as crianças a comer de tudo, mas também a serem indiferentes e autoritárias. Assim, acho que devemos sim estimular nossos filhos a comer direito, mas explicando, conversando e negociando, e não impondo, forçando ou chantageando.

Um comentário:

  1. Ronaldo, passei há dois dias por uma situação horrível decorrente deste ensinamento que era tão comum, e que sempre esteve presente na minha infância: "tem que comer o que tiver no prato; quando estiver na casa dos outros, tem que comer o que tiver".

    Estava hospedada na casa de grandes amigos, daqueles que a gente considera da família. Um vizinho deles ficou de preparar uma paella pro jantar num dos dias, para nós (eu, mãe e noivo). Acontece que, de tudo o que vem na paella, eu só gosto de camarão.

    Pra "não fazer desfeita", resolvi tentar catar apenas o arroz e o camarão, mas estava tudo bem misturado, e não consegui evitar pedaços de lula, mexilhão e polvo no meu prato. Resultado: comi com uma cara horrorosa, o "chef" até percebeu que eu não gostava daquilo, e corri pro quarto, pra passar o resto da noite me sentindo enjoada.

    Chorei bastante, e me dei conta da violência que isso representa na minha vida. Decidi que nunca mais passarei por isso, e que meus filhos jamais precisarão passar também.

    Quando contei o caso, algumas pessoas (incluindo minha mãe e irmão) me questionaram: "Mas por quê tu comeste aquilo? Não tinha obrigação de comer, pra quê comeu?"

    Pois é. Durma com essa. Tenho 29 anos e só agora consegui me livrar da frase da minha mãe ecoando na cabeça - "tem que comer o que servirem".

    Ah, e quando alegam que é falta de educação: falta de educação, pra mim, é um anfitrião servir apenas um tipo de comida, especialmente se essa comida não é exatamente uma unanimidade. Não foi o caso, estávamos numa casa onde eu teria opção de ir na cozinha e comer um pão. Mas a obrigação ainda era tão forte na minha cabeça que eu nem pensei nisso.

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