segunda-feira, 23 de setembro de 2013

Como o homem pode amamentar

A participação masculina mais ativa na criação dos filhos tem sido defendida, inclusive na hora da amamentação. Mas o homem pode participar na amamentação? Homem não tem seios! Tenho lido como os homens podem fazer isso, mas em geral essas propostas progressistas são, estranhamente, muito conservadoras, pois reforçam muito os papéis tradicionais (impregnado de modelos estereotipados de família convencional), e colocando a mãe entre o pai e o bebê. 

O papel do homem na amamentação, segundo essas visões, é de assistente, um mero ajudante, dando suporte à mulher, sem uma relação direta com o bebê, uma relação à que os pais têm direito. 

Sim, podemos dar apoio às mães, mas podemos fazer muito mais.
Na primeira semana, eu fui o coach da minha esposa, ajudando para o seio não empedrar, organizando a logística, trazendo a bebê, ordenhando excesso de leite, etc., (ufa! dá trabalho!), além do apoio emocional. Muitas vezes, meu papel incluiu reconhecer que minha filha queria mamar, pela sua linguagem corporal e outros sinais. Preparei o ambiente (quando a família ainda achava que um ambiente especial era necessário), regulando luminosidade, escolhendo uma música relaxante, etc. Sentava-me ao lado para curtir, acariciando as duas e mantendo contato com minha filha, dando meu dedo para ela segurar, por exemplo. 

Depois, botava para arrotar, cantava para ela dormir. Quando era de noite e minha filha não estava na cama, eu a buscava muitas vezes, e depois a deitava de volta no berço. 

Tentava, como podia, alternar o meu cansaço e o da minha esposa, certamente mais sobrecarregada, mas é bem mais fácil fazer a dois. Como equipe, se eu tinha um dia importante no trabalho no dia seguinte, era poupado. Se ela estava esgotada, eu tentava substituir em tudo o que podia (fora o peito, claro). Às vezes, imaginava que a mãe era uma grande mamadeira, pois eu fazia todo o resto em torno do ato de amamentar. 

Mas eu nem sempre estava lá. Durante o dia, eu trabalhava, e minha esposa tinha que se virar só com a babá. Eu também viajava a trabalho, e aí não era só de dia. Fazia falta, pois amamentar, no nosso caso, deixou minha esposa esgotada, com problemas de memória e concentração por anos. 

Certo ou errado, chegou uma hora em que optamos pelo desmame, que foi uma escolha da mãe e da minha filha. Para mim, o desmame resultou em bônus e ônus (muitíssimo mais trabalho), sendo os bônus bem maiores. Eu pude ser muito mais ativo e o vínculo entre mim e a Sofia aumentou muito com a experiência de eu dar a mamadeira. Eu já tinha muitos momentos de cuidar da Sofia com muita intimidade, como o banho, o arroto, acalmá-la, mas a alimentação é diferente, com aquele longo momento de olhos nos olhos, a respiração entre um gole e outro do leite, o relaxamento do bebê no seu colo no final da mamada... 

Aquilo que era reservado à mãe, passou a ser dividido com o pai. Muito da minha participação ativa foi fortalecido nessa fase e valorizo muito a oportunidade que tive.

Sem a mamadeira, como eu ficaria? ficaria sem aqueles momentos sagrados com minha filha enquanto ela bebia seu “gagau”? Sem encostar seu ouvido em meu peito para que ela aprendesse também o ritmo do meu coração enquanto se alimentava? Sem eu também poder ter meus momentos de doação, entrega, dedicação, presença atenta, solicitude? Os homens devem se envolver mas devemos ficar limitados pela biologia? 

Até hoje, aos sete anos, quando ela está sonolenta, coloco minha filha no colo, ela bebendo seu leitinho na caneca, mas é a mesma coisa. Insubstituível!

Não foi bom só para mim. Acho que foi bom para a Sofia ter a mãe restaurada e a proximidade maior com o pai. 

Não é a minha intenção recomendar o desmame precoce, que pode ser até perigoso, especialmente entre as populações mais pobres, onde pode causar desnutrição e doenças ligadas à falta de saneamento. Por isso, acho superimportante recomendar a amamentação pelo tempo recomendado pela Organização Mundial da Saúde, mas sabendo que outras soluções são possíveis.

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