sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

Ensinar a não-violência

Quando Sofia passou a ter amiguinhos, brincar com outras crianças em parquinhos e frequentar a escola, passaram a ocorrer casos em que ela era agredida por outras crianças. Mordidas, tapas, puxões de cabelo, empurrões. Eu ensinava (ou tentava ensinar) a revidar. Felizmente, minha filha nunca aprendeu isso que tentei ensiná-la.


À medida em que evoluí na "disciplina positiva" ou "educação positiva" (que eu nem sabia que tinha este nome) e à medida em que passei a acreditar que a violência se aprende na infância, tanto no tratamento recebido de adultos como no tratamento entre crianças, vi que, se quero que minha filha cresça para ser um adulto não violento, não podia orientá-la para revidar. Examinei meus próprios modelos de comportamento e de autoestima, e percebi que carrego comigo um modelo que revida a violência, que fica indignado ao ser mal tratado, que reage diante de um tratamento injusto.

Qual o problema disso? É que fiquei um adulto que, diante de uma injustiça que presumo, ao ser agressivo e indignado (não digo nem violência) pode romper laços, quebrar a confiança, maltratar os mais próximos.

Procurei então um modelo que não fizesse isso e me surpreendi: o modelo é Jesus. Eu me surpreendi porque, pois não sou cristão, sou ateu (ou tento ser), mas tive que me render a esse fato: o maior ícone desta civilização violenta é justamente um cara que orientou seus seguidores a serem não-violentos.

Como Jesus lidava com a violência? Aconselhava a revidar? Não. Ele argumentava: "quem não tiver pecado, que atire a primeira pedra", "amai teu inimigo". E dava certo! (não, ele não foi parar na cruz por isso, e mesmo que revidasse agressões, como fez Barrabás, lá estaria ele).

Minha experiência pessoal também me dizia isso. Muitas vezes, desde os 12 anos, em situação de grande desvantagem física (eu sozinho contra grupos de brigões, algumas vezes armados de paus e pedras), o que me salvou foram as palavras, foi questionar o agressor, fazê-lo entender a inutilidade da sua intenção. Dava certo, e escapei de espancamentos com minha dignidade intacta ao usar palavras e não a agressão física (nem os pés para fugir...).

A verdade é que a violência só adianta quando você não precisa dela, pois é mais forte e poderoso que seu agressor. Enquanto isso, as palavras funcionam com fracos e fortes.

Eu tenho 47 anos. Há pelo menos 25 eu não uso violência física. Por isso, acho que preparar uma criança para revidar e brigar não só é inútil na maior parte da vida adulta como a coloca em perigo (por exemplo, ao querer enfrentar agressores mais fortes que ela) e será ruim para ela no futuro (pois fortalecerá um impulso que terá que controlar pelo resto da vida). Mesmo com mulheres, vemos muito isso: mães que não conseguem conter sua raiva diante de seu filho de um ano de idade. Os homens, então, nem se fala.

Por isso, acredito que o modelo é outro, baseado na não-violência, em não revidar, em vencer com as palavras e uma atitude amorosa. Pasmem! o modelo é Jesus.

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