segunda-feira, 30 de julho de 2012

Não arraste seu filho birrento


Estava com minha filha num parque aqui de Brasília e uma cena me marcou: uma mãe segurava o filho pequeno por um dos pulsos, às vezes erguendo o feroz menino, que se debatia, chutava e gritava que não queria ir embora. Pode até parecer comum. Quando vemos uma cena dessas, a impressão que dá é que falta firmeza dos pais, que aquele é um menino mimado e os pais são uns molengas que se deixam dominar. Porém, minha experiência diz o contrário: minha hipótese é que os pais são na verdade bravos, que estão tentando mostrar quem é que manda e que aquele menino não tinha escolha. Eu posso dizer isso com propriedade porque eu fui aquele menino (eu me jogava no chão, esperneava e protestava enquanto meus pais inutilmente tentavam me dominar) e porque minha filha não faz nada disso e não precisa ser dominada. O que há de fundamentalmente diferente entre aquele menino (e mim) e a minha filha é a abordagem dos pais.

Na minha visão, a birra do menino é um impulso saudável por controle de sua própria vida. Esse controle está sendo tomado de si por pais que não parecem entender sua demanda e que se transformam (em sua visão) em tiranos que não entendem seu ponto de vista. A primeira coisa que faria diferente seria não arrastar a criança. Se você tem que usar sua força para dominar seu filho, que seja de uma forma acolhedora. Abaixe-se, fique com seus olhos na altura dos dele. Puxe-o para si e o abrace. Ele vai espernear, chorar, talvez gritar das primeiras vezes. Eu aposto que não dura um minuto (a birra de uma criança arrastada pode durar muito tempo de tortura), e que depois vira um choro gentil. Fale baixinho com a criança, peça para ela deitar a cabeça em seu ombro e pergunte se o que ela queria fazer é aquilo que ela estava dizendo:

_ você queria ficar mais um pouco no parque, né?

Diga que entende.

_ Eu sei, é duro! Você brincou só um pouquinho – diga isso mesmo se foi horas – e não quer acabar agora... Infelizmente, temos que ir embora, já está tarde, e...

Explique com honestidade porque você tem que ir embora. Seu filho já amoleceu no seu colo. O escândalo já acabou. Provavelmente, você já pode até caminhar para o carro ou para casa enquanto ele choraminga...

Tudo isso poderia ser evitado, claro. Se você tivesse avisado antes que iriam embora dali a cinco minutos, tivesse negociado para 10 e na prática deixasse-o brincar por quinze  minutos. Na hora de o chamar, você poderia dizer que ele combinou, que você cedeu e foi até mais razoável, pois em vez de dez minutos, ficaram mais tempo.

Se em vez de mostrar que quem manda é você, tivesse deixado perceber que as demandas dele são consideradas, que você cumpre os acordos que ele fez livremente, ou seja, que ele está em controle, a reação seria outra. Assim, a premissa de quem observa, de que o pai da criança que esperneia é mole pode estar errada: ele é (às vezes sem saber) um controlador (pelo menos é percebido assim por seu filho), e seu filho está reagindo a isso enquanto aprende a ser controlador também. Na abordagem não autoritária, o pai pode até parecer duro quando ele chama e o filho vem sem chiar. Se for flagrado negociando, pode parecer mole também, mas no final minha experiência diz que brigamos menos e nos confiamos mais, e que a cada dia a convivência melhora, assim como a cooperação.

Por isso, em vez de arrastar seu filho birrento, experimente avisá-lo com antecedência sobre o que terá de fazer, negocie, feche um acordo, cumpra-o, e se ele não souber lidar com a frustração, abrace-o, apoie-o, explique e dê carinho. Depois me conte o que aconteceu. Um amigo meu leu sobre isso neste post, usou e deu certo. Não é garantido, mas quem sabe dá certo com você também? 

8 comentários:

  1. Parabéns. Neses post tem sido transmitido boas lições de dialogo entre gerações diferente, o momento e a medida de ambos cederem. Não tenhos filhos, mas gosto de ler sobre educação infantil e aplicar os conhecimentos com sobrinhos e amiguinhos.

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  2. Obrigado, Cristina, pelo incentivo! Espero estar ajudando ao compartilhar minha experiência! Abraço!

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  3. Gostei da dica e da maneira proposta no tratamento com os pequenos. Parabéns pela iniciativa de compartilhar boas práticas.

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  4. Gostei muito da dica. O problema é que a minha filha Ana Livia só tem 1 ano e 2 meses.. Será que da certo mesmo assim? Existe idade pra começar a impor regras? Desde já agradeço.

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  5. Amandha, se você ler mais este blog vai ver que eu sou meio contra "impor regras" ou qualquer coisa aos filhos. Sou a favor de negociar e entrar em acordo sobre as regras. Tudo bem explicado. Um ano e 2 meses é muito cedo para impor ou negociar regras. Não se preocupe com isso até os 3 ou 4 anos. Nessa fase é hora de ensinar compaixão. Compaixão se ensina muito pelo exemplo, especialmente com compaixão pelo próprio filho. Acolha, cuide, dê carinho, previna os problemas por meio da rotina e dos cuidados preventivos.

    Você tem algum problema específico?

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  6. Obrigada pela atenção Ronaldo. Sabe, é que a Ana Lívia faz mta birra, qdo eu digo por exemplo: nao filha, isso nao pode, machuca. Nossa pra ela é o fim, se joga no chao, grita...
    Nao sei mais o que faço, acabo brigando, dando palmadas. Mais sei que isso nao é certo.

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  7. Amandha, deixe eu dizer uma coisa bem clara para você.

    Você quer ser feliz com a Ana Lívia? Ou quer uma relação de conflito e violência? Se quer conflito e violência, siga dando palmadas. Se quer ser feliz NUNCA dê palmadas e NUNCA grite. Quando você abrir mão disso, vai precisar de outras técnicas que pode ler neste blog ou nas dicas abaixo.

    Não existe birra nesta idade. A criança não quer (nem consegue) manipular o adulto. Sua filha tem muita dificuldade com a frustração. Nunca bata. Não é que não é certo. É inútil, deixa marcas e só ensina coisas ruins. Bater não educa. Para lidar com birras, recomendo este post do meu blog: http://oqueaprendicomsofia.blogspot.com.br/2011/10/para-manha-paciencia-compreensao-e-um.html

    Também recomendo você entrar num grupo do Facebook em que as mães se ajudam a entender os caminhos para uma educação sem palmadas: https://www.facebook.com/groups/sempalmadas/ e sugiro você curtir a página https://www.facebook.com/crescersemviolencia?fref=ts

    Vai mudar a sua vida e a da sua filha. Não deixe de buscar esse novo caminho.

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  8. Nossa obrigada msm! Por responder minhas perguntas e pelas dicas. Ja escrevi em uns 4 bolgs e ninguem me responde. Estou me confessando aqui em busca de mudar isso, mto obrigada msm.

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